Todos os dias se assiste a um “corre-corre” desnaturado,
de manhã à noite. O dia-a-dia é tão rotineiro que só lembramos algumas manhãs
da nossa vida, como se todas as outras se tornassem cópias à medida que o tempo
passa.
Juramos que é para sempre.
Depois, deitamo-nos à noite, umas vezes abraçados, outras,
zangados; faz parte. Normalmente, o beijo simples, de boa noite, que
caracteriza o casamento. Mas o sol no dia seguinte vai andar com a mesma pressa
do costume.
Há um dia, porém, que todo esse sistema vai por termo a
uma vida. Há um dia que vai fazer fugir à rotina. Ela acaba por breves
instantes e quem fica, lembra-se de todas as manhãs que ficaram adormecidas na
mente de alguém, à espera que esse alguém acordasse. Todas as manhãs monótonas,
simples e rápidas virão ao de cima. Todos os mais pequenos pormenores que
contenham aquela imagem, estarão lá a marcar presença.
Todos contam com alguém para um abraço, para uma palavra,
por mais hipnotizado que esteja o ouvinte. Qualquer um é capaz de respeitar e
desejar, nem que por milésimos de segundo, que tal não tivesse acontecido. Que
o tempo tivesse sido mais brando, que o sol tivesse sido mais vagaroso.
Ela vai iniciar agora uma rotina diferente, onde ele não
vai estar. Por muito que desejasse chegar a casa depois deste dia, vê-lo, como
de costume, a preparar o jantar mecanicamente, assim como dar-lhe o sabido
último beijo de boa-noite e poder despedir-se abraçado a ele, com a certeza de
que, fosse para onde fosse, ambos se iriam lembrar daquela noite que fugia ao
que era um hábito.