Caminho sobre este chão áspero e severo, que me engole cada passo. A aderência ao solo complica a minha passagem na rua, cheia de gente, de chuva, de mais complicações, de mais do mais tardio e pouco harmonioso. O atrito não cede à resistência.
Torna-se infernal viver esta vida cheia de complicações e dos tão conhecidos “altos e baixos”. Cada um suporta o seu mundo às costas, como se carregasse a sua cruz, a sua sepultura. Não costumo ver “a mão amiga” que tantas vezes ouço falar, não sinto o além passar-me a mão pelas costas, e dizer-me “está tudo bem, estou aqui.”. O além não costuma falar-me, nem quando lhe grito desesperadamente por uma mera ajuda, que às vezes é tão importante.
Às vezes apanho-me sozinha a pensar que existo, mas que, bolas, tenho levado esta vida num estado de tanta mas tanta passividade, que tudo me passa à frente, num rolo fotográfico, numa fita, sem que eu tenha a oportunidade de tocar, manusear, aproveitar. Como se tudo o que me passasse à frente, me passasse ao lado, e me deixasse simplesmente a assistir. A verdade é que a esta minha vida, não faz mais nada da vida, senão calcar-me. A verdade é que atingi um ponto de saturação, de exaustão perfeita... a verdade é que, mais que “em baixo” e “triste”, me sinto amaçada, destruída, podre.
Estou cansada de actuar como figurante numa vida da qual sou protagonista. Vida... Esta história triste e agreste a que nada resta a não ser trincar a maçã do pecado e deixar que o fracasso a que eu estava já condenada, contamine o mundo, geração por geração.